terça-feira, 25 de março de 2008

Viver não dói

Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive. Definitivo, como
tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas
das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que
gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um
tempo razoável, um tempo feliz.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi
desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do
nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de
ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e
silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não
compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade
interrompida.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas
por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais
profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais.

- Carlos Drummond de Andrade

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